Eu-te-amo: A figura não se refere à declaração de amor, à confissão, mas ao repetido proferimento do grito de amor.
A palavra (a palavra-frase) só tem sentido no momento em que eu a pronuncio: não há nela outra informação a não ser seu dizer imediato: nenhuma reserva, nenhum depósito do sentido. Tudo está no lançamento: é uma "fórmula", mas essa fórmula não corresponde a nenhum ritual; as situações em que eu digo eu-te-amo não podem ser classificadas: eu-te-amo é irreprimível e imprevisível. A que ordem linguística pertence então esse ser estranho, essa fenda de linguagem, muito fraseada para ser da ordem da pulsão, muito gritada para ser da ordem da frase? Não é nem exatamente um enunciado (não há nela nenhuma mensagem congelada, conservada, mumificada, pronta para a dissecação) nem exatamente enunciação (o sujeito não se deixa intimidar pelo jogo dos lugares interlocutórios). Poderia ser chamado de proferimento. O proferimento não tem lugar científico: eu-te-amo não é da ordem nem da linguística nem da semiologia. Sua instância (aquilo a partir de que o podemos falar) seria mais exatamente a Música. A exemplo do que acontece com o canto, no proferimento do eu-te-amo o desejo não é nem reprimido (como no enunciado) nem reconhecido (lá onde não era esperado: como na enunciação), mas simplesmente gozado. O gozo não se diz; mas ele fala e diz: eu-te-amo.
Diferentes respostas mundanas para o eu-te-amo: "eu não", "não acredito", "por que dizer isso?", etc. Mas a verdadeira rejeição é "não tem resposta": fico certamente mais anulado se sou rejeitado não apenas como pedinte, mas também como sujeito falante (como tal tenho pelo menos o domínio das fórmulas); é minha linguagem, último reduto da minha existência, que é negado, e não meu pedido; quanto ao pedido, posso esperar, reconduzi-lo, representá-lo outra vez; mas cassado meu poder de questionar, fico como morto, para sempre.
(BARTHES, Roland. Fragmentos de um Discurso Amoroso.)
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